quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Substância Católica e o Princípio Protestante na Igreja

Desde o fim do primeiro século e o início do segundo século da Era Cristã, o termo grego katholikós (que significa literalmente “do todo” ou “universal”, “abrangente”) foi utilizado por destacados Pais da Igreja, como Clemente de Roma e Inácio de Antioquia, para designar a Igreja Cristã. Ele revelava talvez a mais singular das características da nascente religião: sua vocação universal, que não estava presa a territórios, povos e nações, como todas as demais religiões do mundo antigo.

Com o passar do tempo, o termo foi sendo cada vez mais acentuado para designar o grupo dos cristãos não-sectários e não-heréticos, tais como os montanistas, monofisistas, arianos e donatistas. Deste modo, a Igreja Católica era identificada com o grupo dos cristãos que permaneciam firmados na doutrina dos apóstolos e na comunhão dos que rejeitavam as heresias e as seitas oriundas do cristianismo.
Todavia, esta vocação universal do cristianismo chamou também a atenção do Império, vendo nela uma boa fundamentação para sua coesão e pretensões expansionistas. Assim, os imperadores foram paulatinamente aproximando-se do cristianismo. Inicialmente, em 313 AD, Constantino publica o Édito de Milão, que concede liberdade de culto aos cristãos e, mais tarde, em 380 AD, Teodósio vai publicar o Édito de Tessalônica, que tornava o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Neste processo de aproximação do Império, vai se desenvolvendo dentro da Igreja Católica sinais de uma expressão religiosa que poderíamos chamar de Romanismo. Ela pode ser vista em diversos pontos, tais como:

  • O Primado do Bispo de Roma e o desenvolvimento do Papado, sob a influência de Leão Magno, no séc. V, chamado por diversos historiadores de “O Primeiro Papa”.

  • A substituição da simples veneração e honra aos mártires pelo culto popular aos Santos e à Virgem, na adesão forjada dos pagãos à Igreja.

  • A relação entre a Igreja e o Estado, o Papa e o Imperador, iniciada no emblemático episódio envolvendo Ambrósio de Milão e Teodósio, em 380 AD.
Sendo assim, é necessário que façamos clara distinção entre “Catolicismo” e “Romanismo”. Catolicismo fala da vocação universal da Igreja Cristã, revelando sua própria essência e substância. É por esta substância católica que a Igreja permanece unida e indivisível, mesmo através dos séculos e das diversas vertentes nas quais ela se ramificou. A substância católica é o esqueleto no qual permanece unido o Corpo de Cristo, em seus muitos membros.
Romanismo são as práticas e doutrinas que adentraram à Igreja Cristã e que a assola desde a aproximação do Império Romano. O Romanismo é estranho ao cristianismo e ao catolicismo, é um invasor. Foi contra ele que se levantaram os Reformadores e diversos personagens na História da Igreja antes deles. E assim fizeram precisamente para salvaguardar o Catolicismo da invasão do Romanismo. Foi precisamente neste sentido que eles bradaram. A isto dá-se o nome de princípio protestante.

O princípio protestante é o protesto contra tudo que não é divino, mas que tenta se colocar no lugar de Deus; contra toda a autoridade que não é legítima; contra toda verdade que não procede da Escritura; contra tudo que é adorado e obedecido cegamente que não seja o próprio Deus Triúno; contra toda noção de absoluto que não provém da divindade, seja ele moral, político, teológico ou social. É a vontade de construir de novo aquilo que se corrompeu com o tempo. Reformar é trazer de volta à essência aquilo que se corrompeu com o tempo.
Os reformados têm um lema “Ecclesia Reformata et semper reformanda est”, que pode ser traduzido por “Igreja Reformada sempre se reformando”. Assim, o princípio protestante deve ser aplicado continuamente, vezes sem conta, para não deixar que a igreja caia nos erros que ela mesma denunciou e combateu. É o princípio protestante que mantém a substância católica a salvo dos ataques do Romanismo e de tudo o mais que tente tomar o lugar do que é, de fato, a Igreja e a Doutrina Cristã.
Deste modo, como verdadeiros reformados, nós devemos amar o Catolicismo e bradar em alta voz:
”Viva a ICAR!”
Isto é, a Igreja Católica Apostólica Reformada, não Romana…

José Luiz Martins Carvalho - Teólogo reformado, bacharelado em Teologia pela Escola Superior de Teologia (EST), São Leopoldo-RS (integralização de créditos), licenciando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), pós-graduado em Filosofia Contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestrando em Teologia Sistemática pela Pontifície Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Nenhum comentário: