terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Aba, Pai

Jesus se sentiu de tal forma e com tal intensidade vinculado a Deus, que só conseguiu expressar-se utilizando a categoria da filiação. Ele se dirige a Deus chamando-O de Aba, palavra aramaica que os tradutores não ousaram tocar, não conseguiram outra para expressar todo seu conteúdo. Aba – baba nas línguas semíticas, papa nas latinas, dada nas anglo-saxônicas – é a forma carinhosa com que a criança chama seu pai, vocábulo primitivo, que o nenê balbucia. Somente a palavra Aba consegue transmitir o que Jesus Cristo sentia quando olhava para Deus.

Aba é uma das palavras mais densas de todo o Novo Testamento. Ela nos revela esse mistério íntimo e supremo da relação de Jesus com Deus. Jesus invoca a Deus com esse termo denotador de familiaridade e intimidade absoluta. Com essa palavra é possível abrir uma pequena fresta no mistério de Deus. Uma fresta que nos permite deslumbrar a ternura, o cuidado e o afago de Deus. Jesus Cristo chama Deus de Pai, Aba, Papai, Painho.

Ao chamar Deus de Pai, Jesus nos revela o segredo de Seu ser único. Assim, o Deus vivo e verdadeiro, o criador do universo, a quem não vemos, é o Pai de Jesus Cristo. O Deus Altíssimo, o Todo-Poderoso, passa a ser definido como o Pai de Jesus.

Lemos no Evangelho de João que Jesus diz: “Eu e o Pai somos um” (10:30), e ainda: “Ninguém jamais viu o Pai, o Deus unigênito, que está no seio do Pai que o revelou” (1:18). Felipe pede a Jesus: “Mostra-nos o Pai”, e Jesus responde: “Quem vê a mim vê o Pai” (João 14:8-9).

Assim, podemos dizer que Deus Pai escolheu se revelar por meio de Cristo, e isso tem dois desdobramentos:
• Da parte de Deus, Ele se revela a nós tão-somente por intermédio de Jesus Cristo.
• Da nossa parte, só podemos conhecer e nos relacionar com Deus por meio de Seu Filho Jesus Cristo.

Deus é revelado ao homem essencialmente na lógica do amor, da ternura, da proteção. Pai é aquele que gera, que cuida, que protege, que carrega, que dá direção e limites, que educa, que lança para a vida. Um Pai com muitas coisas de mãe, que tem carinho, colo e afago. Toda a experiência humana de Jesus Cristo em relação a Deus como Filho, toda Sua vivência de dependência, vínculo, proximidade, intimidade pode também ser nossa pela adoção.

Pois, quando nos convertemos, nos tornamos filhos de Deus: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem em seu nome” (João 1:12). Ou ainda: “E porque sois filhos enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama Aba Pai, de sorte que não és escravo, porém filho e sendo filho também herdeiro de Deus” (Gálatas 4:6).

A filiação é a nossa identidade no mais profundo, no âmago. Quem somos nós? Somos pecadores a quem Deus fez Seus filhos amados. Essa convicção profunda, testificada no nosso coração pelo Espírito Santo, gera uma profunda alegria – a alegria da afirmação de nossa identidade. A oração que Jesus ensinou aos Seus discípulos começa com Aba, Pai e expressa uma invocação cheia de afeto, júbilo, louvor, alegria, submissão, intimidade e respeito. Quando invocamos a Deus como nosso Pai, o discipulado passa a ser visto na ótica da filiação.

Os seguidores e discípulos de Jesus Cristo são vistos como filhos, e a comunidade cristã é vista como família de Deus. Então, a caminhada de fé passa a ser permeada por essa relação de paternidade, filiação e fraternidade. Um relacionamento marcado por essa proximidade afetiva de Deus para com os discípulos que se tornaram Seus filhos e irmãos entre si.

A queda nos lançou numa terra distante, e se converter significa voltar para a casa do Pai, como fez o filho pródigo. Um Pai amoroso que nos acolhe sem restrições e pelos méritos da cruz de Cristo nos perdoa, nos abraça e faz festa.

Nossa filiação é a grande afirmação do Novo Testamento, e Aba Pai é a expressão mais exata para traduzir em nosso mundo a experiência que temos com Deus. Estamos reconciliados com nosso Pai Celestial.

Osmar Ludovico é um dos pastores da Comunidade de Cristo, em Curitiba, e trabalha com grupos de espiritualidade, casais e restauração.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Propósitos

Nos últimos dias, a palavra propósito virou mania, pelo menos entre evangélicos. Livros que tratam de propósitos para a Igreja e para indivíduos superam as vendas de qualquer outro tema. E não é de se admirar, uma vez que o individualismo de nossos dias estimula a procura de respostas para as questões de sucesso, realização e satisfação de se ter cumprido sua missão.

Aquele que tem dificuldade em identificar o propósito que motiva o investimento de recursos, tempo, vida e dinheiro se sentirá desestimulado. O individualismo fica de tal modo em evidência que, na falta de um propósito claro e cativante, torna-se difícil se envolver ou dar sua cooperação. Quem quer perder tempo e esforço sem um objetivo que o atraia?

A Bíblia estimula fortemente a identificação e a escolha de propósitos em sintonia com o plano de Deus. Ela não deixa dúvidas no fato de que tudo que Deus faz tem algum propósito, mesmo quando não podemos discernir qual é. Considere esta frase: “(ele) faz todas as coisas segundo o propósito de sua vontade” (Efésios 1:11 – NVI). Em Romanos 8:28, Paulo acrescenta que “sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (NVI).

Ficamos tranqüilos em afirmar que o cristão deve reconhecer que o propósito central de sua vida é alinhar-se com o propósito de Deus. Muitos cristãos, porém, nunca param para indagar qual é o propósito fundamental de Deus nem questionar qual seria o Seu plano para cada indivíduo. Felizmente, as Escrituras revelam sem titubear qual foi o plano de Deus traçado antes da fundação do mundo. Seu propósito foi o de criar um universo, um mundo em que seres humanos pudessem livremente nascer, crescer e alegremente adorar o seu Criador. Segundo o Catecismo Abreviado de Westminster, “a finalidade do homem é glorificar a Deus e gozar dEle para sempre”.

Quando o homem caiu por causa da desobediência, desviou-se do propósito original de glorificar a Deus e procurou um propósito distinto que o satisfizesse. O resultado foi evidente no decorrer da História e, acentuadamente, no mundo moderno. É notória a luta para se possuir dinheiro, bens materiais e valores, bem como a busca desenfreada pelo sexo prazeroso e poder. Todos os prazeres possíveis parecem alvos legítimos para os que não têm seu principal prazer em Deus.

Mark Twain, autor de livros, escreveu em sua autobiografia um desabafo: “Os homens xingam, brigam e competem pelas pequenas e rudes vantagens um sobre o outro. A velhice vem chegando, trazendo fraqueza e enfermidades. A vergonha e humilhação seguem, e a carga pesada de dor, preocupação, humilhação vem atrás. Aqueles que os amam são tirados deles, deixando a solidão, a decepção e a amargura. O único presente não envenenado que o mundo os concede finalmente chega e eles desaparecem da terra, onde não passaram de um erro, uma falha e uma tolice. Não deixaram nenhum sinal de ter existido. Partiram dum mundo onde serão lamentados por um dia e esquecidos para sempre. Assim é a vida sem propósito que não se sintoniza com o propósito de Deus. Deus revelou graciosamente Seu propósito ao criar homens e mulheres à Sua imagem e semelhança.

Primeiro, Deus quis que Suas criaturas reconhecessem Sua autoridade amorosa. Deveriam honrá-lO, glorificando-O e louvando o Seu santo nome. Ordenou que todos O amassem de todo o coração, mente, força e alma.”

Segundo, Deus concedeu liberdade incrível ao homem para desenvolver sua inteligência e criatividade, e usar a matéria-prima que Deus criara. Forneceu tudo o que fosse necessário para Suas criaturas se alimentarem, buscarem conforto, beleza e realização.

Terceiro, passou para os habitantes da Terra o conceito de organização, de ordem, de progresso e governo, bem como de cooperação para alcançar o bem maior de todos.

Quarto, Deus revelou Sua lei moral, implantando-a na consciência e escrevendo-a nas Tábuas da Lei guardadas na Bíblia. O conceito de justiça, do bem e do mal, do dever, de responsabilidade cabe todo dentro do propósito de Deus.

Em todas essas áreas e muitas outras, Deus torna patente o Seu propósito. Mais importante ainda é saber que ser chamado segundo o Seu propósito quer dizer que Deus planejou um único meio pelo qual os chamados pudessem gozar da companhia dEle eternamente. O propósito central da revelação da Bíblia aponta nessa mesma direção. Sucintamente, Jesus falou deste propósito na oração sacerdotal: “Esta é a vida eterna, que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste” (João 17:3 – NVI).

Russell Shedd é PhD em Teologia do Novo Testamento e doutor em Divindade.

Retirado de Revista Enfoque

Aniversariantes do último trimestre de 2008



Parte do culto matinal de Domingo 28/12/2008
Parabéns aos aniversariantes!!!
Desejamos que os irmãos e irmãs continuem crescendo na Graça e no conhecimento de nosso Deus.